**Versos, textos, frases, fases, poemas, crônicas e devaneios...**

quinta-feira, 21 de abril de 2011


ESQUECER É APRENDER...

Esquecimentos...
Esquecer é uma forma de aprender. Parece estranho, mas é verdade. Sempre que me esforço para esquecer alguma coisa, de alguma forma eu me exercito nos horizontes do aprendizado.
Esquecer faz bem. É uma forma de abrir espaços para as novidades que ainda estão por chegar em nossas vidas. Já pensou se ainda estivéssemos parados nas primeiras lições da escola?
De alguma forma elas caíram no esquecimento, mas estão na síntese de tudo o que aprendemos pela vida a fora. Aprendizados são alicerces que se perdem da memória, mas não fogem de nós. O esquecimento se encarrega de resguardar o essencial... preserva a memória do cansaço que gera o constante lembrar... mas guarda para quando for necessário.
É bom esquecer o que não foi bom, o que doeu, o que fez sofrer, mas vez ou outra a memória resgata a informação esquecida e a transmuda em aprendizado que vale à pena. A dor, distante da hora em que doeu, torna-se uma tradução bonita do que chamamos maturidade.
Hoje eu quero esquecer o que não foi bom, e um recurso que me auxilia nesta tarefa é relembrar alegrias passadas.
Dois pensamentos não podem ocupar o mesmo lugar na mente. É só uma questão de escolha...
Hoje, neste momento em que a vida me parece difícil eu quero é me prender nos olhos de Jesus, que sorrindo, vive a repetir que me ama...


Pe. Fábio de Melo

quarta-feira, 13 de abril de 2011

 

Onde Começa o Amor

Quando eu caía, nos meus tempos de criança, abria o berreiro e, num passe de mágica, aparecia um monte de adultos: mãe, pai, avós, tios, bisavô. Só faltava a imprensa. Até o cachorro da época, que nem gostava muito de mim porque tinha ciúmes da minha mãe, corria para ver o que eu havia aprontado daquela vez. Geralmente, nada: era uma menina muito tranqüila. Tanto, que se fosse possível voltar no tempo eu resgataria a oportunidade de ser um pouco mais levada. Como não é, fica pra próxima.

Caía como gente de toda idade cai. Por descuido. Por uma momentânea falta de equilíbrio. Sem saber que troço aconteceu para confundir tanto as pernas. Aí vinha a parte boa do tombo: com exceção do cachorro, que não queria conversa comigo, era comum eu ganhar beijinhos daquela turma, sob a alegação de que o carinho faria o susto passar. Às vezes, eu nem estava mais assustada, não havia nada doendo, mas prolongava o choro só para ser mais beijada. Eu era tranqüila, mas não era boba.

Doce sabedoria, aquela: joelhos e braços continuavam feridos por alguns dias, mas o susto realmente passava logo depois do cuidado carinhoso. Para os machucados do corpo, existem alternativas para curativo. Mas, para os sustos dos tombos que a gente leva na vida, o que é bom mesmo é amor. Sem talvez perceberem, aqueles meus queridos protetores faziam algo muito importante ao permitir que o meu susto fosse reconhecido. As manchas roxas na pele tendem a desaparecer num curto período de tempo, com ou sem aplicação de pomada. As manchas que os sustos colorem na alma, não. Essas precisam de outro tipo de atenção para serem dissolvidas.

Alguns sustos somente se dissipam quando encontramos alguma palavra, algum carinho, alguma luz, que os libertem. Susto doído aprisionado pode virar um ponto de obstrução na alma que dificulta que a vida flua mais contente. A gente pode escolher fingir não lembrar que existe uma tristeza que não foi beijada ali, mas isso não faz com que ela pare de doer em silêncio, e poucas coisas são tão perigosas como as dores que crescem sem fazer barulho. Olhar, reconhecer, chamar pelo nome, tratar, é escolher beijar, esvaziar, e seguir.

De sustos doídos, de outra natureza, muito diferentes dos tombos da infância, nós entendemos bem. Não acho que seja possível passar pela vida sem susto algum. Não, não temos controle com relação a isso. Com toda a tecnologia do nosso mundo, não existe uma tecla que, ao ser apertada, nos impeça definitivamente de sofrer. Ninguém escapa da dor. Eu, pelo menos, nunca conheci uma pessoa que nunca tenha vivenciado o sofrimento, de alguma forma, em algum lugar da caminhada.

Por mais que a vivência seja solitária, não estamos sozinhos nesse sentimento. Em qualquer local do planeta, todos sabem do que se trata. Às vezes, até achamos que sofremos mais do que os outros e ficamos estagnados nessa crença. Mas, isso não vem ao caso. Não nos interessa competir para saber de quem é a dor maior. O que interessa é descobrir como podemos esgotá-las. Curá-las. Transformá-las. E é aí que entra a metáfora dessa história: depois de adultos, isso começa com o nosso próprio reconhecimento. Com o nosso próprio beijo. Com toda gentileza possível com a nossa vida. Com a nossa permissão.

De vez em quando, reencontro pessoas que passo muito tempo sem ver e elas me contam de novo sobre a mesma dor. Aquela que, com o passar dos anos, costuma se ramificar em outras tantas, às vezes já impressas no corpo. Pode mudar o cenário, as personagens, mas o argumento está intacto. E a impressão que me dá, em algumas circunstâncias, é que, de alguma maneira, elas continuam lá na infância, aguardando vir somente de fora os beijos para os seus sustos, o curativo para os seus machucados. É como se ficassem paralisadas nessa expectativa.

Aperta o meu coração, uma vontade de dizer sem saber se o outro quer ouvir: cuida de você, você pode, você é capaz, não fica aí nesse lugar. Vontade de dizer, compassiva, com empatia, porque eu muitas vezes também fiquei esperando. Até começar a entender que, depois que a gente cresce, a proteção amorosa, o suporte, a delicadeza, precisam começar na nossa relação com nós mesmos. É muito bacana, uma dádiva, termos relações de troca afetuosa e zelo recíproco na nossa vida. Uma benção receber amor. Mas quando a gente dói, a gente precisa saber formas de cuidar da própria dor com o jeito carinhoso com que gostaríamos de ser cuidados pelos outros, com a delicadeza com que cuidamos de outras pessoas. A gente precisa se ter, antes de tudo. O beijo precisa começar em nós.
 
Ana Jácomo
Não é que seja exatamente corajoso, meu coração tem é isso de bom: não ocupa espaço com mágoas e, com o tempo, ele se tornou desmemoriado pra assuntos de frustração. Quando me dou conta, lá está ele amando de novo, sorriso de orelha a orelha, com tal frescor que parece que nunca foi ferido. Dá, sim, pra ver uma cicatriz aqui e ali, outras mais adiante, que cicatriz não morre, mas ele não liga. Nem eu. Não é que seja exatamente teimoso, meu coração tem é isso de bom: gosta de amar. Eu também.

Ana Jácomo


domingo, 10 de abril de 2011


"...Mas falo. E, ao falar, provoco nuvens de equívocos (ou enxame de monólogos?) Sim, inverno, estamos vivos."

Paulo Leminski


sábado, 9 de abril de 2011



"Às vezes a nossa vida é assim, nós não estamos felizes porque reclamamos dos terrenos baldios que estão do nosso lado. As vezes nós colocamos a culpa da nossa infelicidade nos lugares desertos da nossa existência onde o outro jogou o seu lixo e a gente acaba se acostumando a conviver com esse lixo, quando na verdade o que a gente precisa fazer é tomar a iniciativa de limpar a nossa vida, de limpar aquilo que está do nosso lado para que a gente possa voltar a continuar o dom de ser feliz. Se a gente se acostuma a conviver com o lixo, daqui a pouco a gente já se identifica com ele e a gente não sabe mais viver fora do lixo. Vida espiritual é assim também, se a gente não se cuida,a gente corre o risco de ter uma vida extremamente desagradável e nós vamos vivendo de sentimentos mesquinhos porque a gente se acostumou com eles. Quem sabe hoje Deus está segurando na sua mão para lhe ajudar a olhar os terrenos baldios da sua vida para que você possa transformá-los em jardins." 


Pe. Fábio de Melo



"O caminho que eu escolhi é o do amor, não importam as dores, as angústias nem as decepções que vou ter que encarar, escolhi ser verdadeiro. No meu caminho, o abraço é apertado, o aperto de mão é sincero, por isso, não estranhe a minha maneira de sorrir, de te desejar o bem; eu sou aquela pessoa que acredita no bem, que vive no bem e que anseia o bem. Por isso, não estranhe se eu te abraçar bem apertado, mesmo que seja só em pensamento, se eu me emocionar com a sua história, se eu chorar junto com você, afinal de contas, somos gente e gente que fez a opção pelo bem. É assim que eu enxergo a vida, e é só assim que eu acredito que valha a pena viver...viver com emoção...com verdade."


Pe. Fábio de Melo




"Ficar calado é uma forma de dizer sem conceituar. 
Os conceitos são formulações fáceis, o silêncio não."

Pe.Fábio de Melo


quarta-feira, 6 de abril de 2011


Que nada nos limite (...) que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre. Porque alguém disse e eu concordo, que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata, e que a vida sempre, sempre continua.

Simone de Beauvoir